A andragogia é uma abordagem educacional que respeita as características, necessidades e interesses dos adultos, motivando-os em relação ao seu aprendizado, diferenciando-se da pedagogia tradicional.

Uma das máximas que eu aprendi na Andragogia é a de que “o adulto quer aprender, mas não quer ser ensinado“.

Parece um paradoxo, mas na educação os processos de aprendizagem de um adulto e de uma criança são bem diferentes.

Qual a Diferença entre Andragogia e Pedagogia?

A diferença é que a andragogia é a ciência que estuda a aprendizagem de adultos, enquanto que a pedagogia é a ciência que estuda a aprendizagem de crianças e adolescentes.

A andragogia busca as melhores práticas e estratégias para ajudar os adultos a aprender, levando em conta suas características, necessidades e motivações.

A pedagogia tem a educação como objeto de estudo, abrangendo os aspectos teóricos, práticos e metodológicos do processo educativo.

O termo andragogia foi usado pela primeira vez em 1833 pelo pedagogo alemão Alexander Kapp, mas se popularizou na década de 1970 com Malcolm Knowles, educador americano que se tornou referência no tema.

A andragogia (do grego andros = adulto) significa ensino para adultos, em contraste com a pedagogia, que significa ensino para crianças (do grego paidós = criança).

Para Pierre Furter (1973), a andragogia é um conceito amplo de educação do ser humano, em qualquer idade. Para a UNESCO, por sua vez, o termo foi usado para se referir à educação continuada.

Diferenças entre Pedagogia e Andragogia

Enquanto que na Pedagogia existe uma hierarquia, na Andragogia o conhecimento é compartilhado, fazendo do aprendizado uma via de mão dupla.

Na Andragogia o professor tem o papel de orientador ou facilitador no processo de aprendizagem do adulto, propiciando a autogestão.

Eu acho interessante essa divisão didática pois dependendo das necessidades do ser humano, temos que adotar princípios diferentes de educação.

Estudar e Aprender é a Mesma Coisa?

Meu irmão me contou recentemente que ao falar como ele gostava de estudar, o sobrinho dele reagiu afirmando:

Eu não gosto de ESTUDAR, nunca gostei… Eu gosto é de APRENDER !!! 

E meu irmão me comentou: “Aquilo parecia uma grande incoerência, como ele pode gostar de aprender se detesta estudar?”

Para o sobrinho do meu irmão, havia uma enorme diferença entre ESTUDAR (que ele detesta) e APRENDER (que ele ama).

Interessante que estudar e aprender são dois conceitos relacionados, mas não são sinônimos.

Estudar é uma atividade que envolve a leitura, a pesquisa, a análise, a memorização e a revisão de conteúdos, com o objetivo de adquirir conhecimento sobre um determinado assunto.

Normalmente isso envolve atenção, concentração e esforço, as vezes é necessário uma sala de aula ou um ambiente silencioso, tendo ou não alguém que nos ensine.

Estudar nem sempre significa que aprendeu, porque às vezes pode acontecer de esquecer ou não entender o que estudou.

Além disso, estudar nem sempre garante a aprendizagem, pois depende de fatores como a motivação, o interesse, a atenção e a concentração do estudante.

Estudar na Escola

Aprender é um processo que envolve o seu cotidiano, com coisas que você está vendo, conversando, fazendo ou pensando. Normalmente não envolve muito esforço, pois aprende pela observação ou pela conversa e obtém conhecimento e experiência pela prática do que aprendeu.

Note que aprender nem sempre requer o estudo formal, pois depende de fatores como a curiosidade, a criatividade, a disposição de colocar a mão na massa e a intuição do aprendiz. A curiosidade gera motivação e interesse em aprender.

Para o sobrinho do meu irmão, ESTUDAR não passava de algo formal, com a obrigação de frequentar aulas, fazer lição de casa, trabalhos e provas.

Tudo isso para saber o quanto ele teria captado ipsis litteris de tudo aquilo que o professor tinha passado de conteúdo.

Em outras palavras, ele queria aprender, sem precisar voltar para a escola, ele queria aprender na prática, no seu dia a dia, na tentativa e erro, sem se preocupar com provas ou trabalhos.

O Adulto Precisa de um Motivo para Aprender

O adulto é motivado por fatores internos, como a realização pessoal, o crescimento e a satisfação, do que por fatores externos, como as notas, os elogios e os prêmios, ele precisa saber por que precisa aprender algo e qual o ganho que terá no processo.

Quando existe um motivo real, aprender passa a ser algo que dá prazer, além de satisfazer a curiosidade, aprender pode ajudar na solução de uma necessidade ou de um problema do seu cotidiano.

Até a origem da palavra APRENDER é muito interessante !!

Do latim apprehendere tem a ver com prender (prehendere), ou seja, “aprender é prender em si mesmo o que se aprendeu“.

Na pedagogia existe uma hierarquia do professor com seus alunos, numa comunicação vertical. Na andragogia existe o papel do orientador ou facilitador, numa comunicação recíproca e horizontal.

Na verdade o adulto não quer ter a sensação que está sendo ENSINADO, como se fosse uma criança, mas ele quer ser ORIENTADO, pois normalmente ele já possui vários tipos de conhecimentos, mas talvez tenha dificuldade em colocar em prática ou em ser mais produtivo.

Na escola tradicional é imposto para o aluno o que ele deve aprender, seguindo um currículo pré-definido e uma metodologia diretiva e padronizada.

Isso funciona com crianças e adolescentes, que ainda estão em formação e precisam desenvolver as competências básicas para a vida.

Mas isso não funciona com adultos, que já têm experiências, interesses e necessidades próprias, e que buscam aprender conteúdos que sejam relevantes, práticos e aplicáveis ao seu contexto pessoal e profissional.

Processo de Aprendizagem na Andragogia

Os adultos precisam de uma abordagem mais flexível, participativa e colaborativa, que respeite sua autonomia, sua motivação e sua capacidade de se autodirigir na aprendizagem.

Por isso, a andragogia é mais adequada para o ensino de adultos do que a pedagogia.

Os Seis Pressupostos Andragógicos de Knowles

O educador americano Malcolm Knowles é considerado por muitos como o “Pai da Andragogia“. Além disso, é um dos principais nomes no desenvolvimento da Teoria Humanista de Aprendizagem.

A teoria de Knowles pode ser afirmada com seis suposições relacionadas à motivação da aprendizagem de adultos:

Autonomia: o adulto sente-se capaz de tomar suas próprias decisões, realizando uma autogestão e gostam de sentir-se responsáveis ​​pelas suas decisões sobre educação, planejamento e avaliação.

Necessidade: Os adultos precisam saber qual é o real motivo de precisar aprender algo. Ele precisa sentir que é algo necessário para o seu dia a dia, que aquele conhecimento fará diferença no seu cotidiano.

Experiência: a experiência acumulada pelos adultos oferece uma excelente base para o aprendizado de novos conceitos e novas habilidades.

Prontidão para a Aprendizagem: o adulto tem maior interesse em aprender aquilo que está relacionado com situações reais de sua vida, que possam ser aplicadas na sua vida pessoal ou profissional.

Orientação da Aprendizagem: preferência pela aprendizagem centrada na solução de problemas em detrimento de uma aprendizagem centrada em conteúdo ou áreas do conhecimento.

Motivação para Aprender: os adultos são mais afetados pelas motivações internas que pelas motivações externas. Vale lembrar que as motivações externas estão ligadas a obter prêmios ou evitar punições; motivações internas estão ligadas a realização pessoal, aos valores e objetivos de cada um.

O Processo de Aprendizagem na Andragogia

Até mesmo a expressão tão comum nos dias atuais “caiu a ficha“, embora de origem do tempo dos telefones públicos de ficha, representa o momento que se entendeu alguma coisa.

A inteligência não é formada pela quantidade de neurônios, mas sim pelas sinapses. E com certeza, quando “cai uma ficha” é porque foi formada uma nova sinapse.

Quando a pessoa se esforça em entender uma nova coisa ou procura ver por outros ângulos a mesma problemática, ela começa a associar com coisas que ela já conhece e domina.

E neste processo de interligações de neurônios criando novas sinapses, o aprendiz finalmente sente que “caiu a ficha” !!

Na andragogia o ensino é adaptado ao ritmo, situação e estilo pessoal de cada adulto.

O ensino na andragogia busca ser mais dinâmico, participativo e prático, estimulando a motivação, a autonomia e a aplicação dos conhecimentos.

Pedagogia e Andragogia

Além disso, leva em conta as experiências prévias, os interesses e as necessidades dos adultos, que podem facilitar ou dificultar a aprendizagem.

Portanto, o ensino na andragogia pode ser mais rápido ou mais lento, dependendo de vários fatores que influenciam o processo de aprendizagem dos adultos.

Visão Ampliada sobre Pedagogia e Andragogia

Então quer dizer que crianças e adolescentes sempre vão ser ensinados pela metodologia pedagógica e adultos pela andragógica? A resposta é… depende de vários fatores.

A andragogia ainda é um termo relativamente recente, mas foi observado que crianças e adolescentes podem ser ensinados de forma andragógica, com sucesso. Assim como um adulto pode ser ensinado de forma pedagógica e ter bons resultados. 

Malcom Knowles começou a se questionar se a Andragogia é adequada APENAS para adultos. Ele começou a acreditar que a pedagogia e a andragogia são ambas abordagens apropriadas para crianças e adultos, dependendo da situação. 

Autores como Hanson (1996) acreditam que as diferenças na aprendizagem não têm nada a ver com a idade e estágio de vida de uma pessoa, mas com características pessoais e diferenças de “situação, cultura e poder” em diferentes ambientes educacionais. 

É importante que seja levado em conta o nível de maturidade, crianças e adolescentes ainda estão em processo de desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Também tem que ser avaliado se precisam de um professor que atue como guia e observar as necessidades específicas de cada um.

Aplicação da Andragogia na Aprendizagem

A aplicação da andragogia em crianças e adolescentes pode ser uma ferramenta valiosa para promover uma aprendizagem mais autônoma, significativa e engajadora. No entanto, é fundamental que seja feita de forma consciente e responsável, considerando as características e necessidades específicas dessa fase da vida.

A Heutagogia e os Blogs Acadêmicos Educacionais

Uma nova estratégia educacional evoluiu em resposta à globalização que identifica os alunos como autodeterminados, especialmente no ensino superior e nos locais de trabalho: a heutagogia. 

A heutagogia é um processo em que os alunos aprendem por si próprios com alguma orientação do professor. A motivação para aprender vem do interesse dos alunos não apenas em ter um desempenho, mas em serem reconhecidos por seu empenho (Akiyildiz, 2019). 

Além disso, na heutagogia, a aprendizagem é centrada no aluno, onde as decisões relativas ao processo de aprendizagem são gerenciadas pelo aluno. Além disso, o aluno determina se os objetivos de aprendizagem foram alcançados ou não.

Em resumo, heutagogia é um termo que vem do grego e une as palavras heutos (auto) e agogus (guiar). Ou seja, a heutagogia nada mais é do que um método de aprendizagem autoguiada, onde o próprio aluno guia seu processo de aprendizagem.

Por causa disso que defendemos a elaboração, pelos nossos alunos acadêmicos, dos blogs educacionais.

Pois, ao explorar a temática dada em aula, o aluno fará pesquisas na Web, usando imagens muitas vezes cômicas e de vídeos ilustrativos.

O aluno começará a relacionar o conteúdo em sala de aula, com uma variedade de mídias diferentes e incríveis. É o uso efetivo da transmídia !! Mas, esse é um papo para outro artigo…

Blogs acadêmicos podem ajudar no aprendizado de várias formas, veja alguns benefícios:

  • Permitem o acesso a informações atualizadas, relevantes e confiáveis sobre diversos temas de interesse acadêmico.
  • Estimulam a leitura crítica, a reflexão e o debate, favorecendo o desenvolvimento do pensamento crítico.
  • Proporcionam a oportunidade de interação e troca de ideias com outros leitores, ampliando a rede de contatos e a visão de mundo.
  • Incentivam a escrita criativa, a expressão pessoal e a divulgação do seu próprio blog acadêmico.

Mudanças no Cérebro Quando Aprendemos

O pesquisador Tonghui Xu da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, estudou camundongos jovens e adultos.

Os animais eram colocados em gaiolas onde aprendiam a alcançar sementes através de uma fenda.

Menos de uma hora depois de aprenderem a tarefa, já se encontrava um número significativo de novas sinapses no córtex cerebral.

Esperava-se que a formação de novas sinapses levasse dias para acontecer. No entanto, o estudo de Xu e sua equipe mostra que o remodelamento estrutural das sinapses acontece quase imediatamente.

Portanto, aprender é mudar o cérebro quase que na mesma hora. Constatou também que entre os camundongos jovens a formação de novas sinapses era mais rápida do que em adultos.

Ensinar um adulto é um verdadeiro desafio, não somente pela variedade de idades, formação e educação acadêmica, mas pela quantidade de informações, conceitos (e até preconceitos), responsabilidades e independência inerente ao ser humano adulto.

Recomendação de Livro sobre Andragogia

O livro “Andragogia em ação: Como ensinar adultos sem ser maçante” de Zezina Bellan é a nossa indicação.

Um dos maiores desafios de nosso tempo é a comunicação. Falar e esperar que o outro entenda exatamente o que penso é uma árdua tarefa.

Comunicar envolve o pensamento, a emoção e os sentidos. O professor que não aprende a comunicar com sua audiência, deixou de ser mestre.

Todo educador precisa efetivamente comunicar-se, porque tem o privilégio e a responsabilidade de transmitir seus conhecimentos para influenciar pessoas.

Ao entender como adultos aprendem, encontrará meios para desenvolver habilidades que facilitarão sua comunicação e a transmissão da sua mensagem.

A intenção dele é otimizar o potencial que há dentro de cada líder através de informações e dicas importantes para enriquecer as aulas ou palestras.

Saia do comum. Decida ser diferente e surpreenda seus alunos! A educação tem um forte papel na Andragogia!